quarta-feira, 21 de abril de 2010

Calmaria

Agora estou calma,
Acho que aprendí a me controlar..
Claro,
Depois de tantos tombos quem não aprende?

Eu caí, me machuquei e levantei,
Depois,
Eu caí, me machuquei e levantei,
E de tanto me levantar,
Levantei vôo...

Como aquele lugar acima das nuvens é bonito...
Quando aqueles sentimentos inéditos
Começaram a explodir em mim,
Pequenas crianças vieram me acolher.

Elas disseram que eu podia ficar no paraíso o tempo que eu quisesse,
Mas que uma hora eu teria que voltar para aquele lugar sombrio,
Já que sabia que se caísse, me recuperaria...

Eu voltei. Eu caí de novo.
Eu levantei, dessa vez sem machucados.
Naquele momento percebi
que se fui fui capaz de chegar ao paraíso,
Era capaz de ficar em pé.

Então, à partir daí,
Fiquei calma,
Aprendi a me controlar...



Natália Blanco

domingo, 4 de abril de 2010

Somos autores e leitores

Um blog que se propõe a pensar/discutir qual o valor da vida e nele não há vida, não há movimentos, não há novas ideias, deve estar com problema. Por isso, mesmo tendo dito que aquele primeiro seria também o último post, novamente aqui estou eu. Porque é um impulso vital escrever.

Havia alguma ficção em mente. Falei com a turma "há uma história para ser escrita, um conto que não me sai da cabeça." Mas, foi isso: o conto não me quis sair da cabeça. Permance aqui, trancado. Mas, como disse, escrever é-me vital. Se não há ficção nem poesia, tanto melhor, falo da vida, pois não é por esse motivo que estamos aqui? Estamos quem, cara pálida? Visto que, escrever mesmo, só três alminhas se aventuraram (sem contar com essa alma que vos escreve). Concordo que falar seja mais fácil, pois é uma dotação natural dos seres humanos; já a escrita é uma aquisição. Mais que isso, na nossa sociedade, escrita é também hierarquização. É instrumento político, social, artístico. Aquele que domina a escrita tem uma vantagem sobre os outros. Platão já nos adverte sobre isso em seu diálogo Fedro - há que se ter prudência com a palavra escrita, pois ela permanece sobre a passagem dos anos e dela pode-se fazer mau uso.

É preciso estar preparado para a escrita; é preciso estar preparado para a leitura. Um texto é um mundo a ser decifrado pelos olhos, coração, sentidos, conhecimentos do leitor. Logo, um texto se escreve de verdade no momento em que é lido. Quem dá sentido à palavra é o leitor que junta os sinais do texto aos outros sinais do contexto, mais os seus conhecimentos, mais as suas experiências, mais algum possível sentimento. Essa é a razão de cada leitura ser única, pois cada ser é único. Cada uma tem uma história e, por isso, faz uma leitura.

Caso alguém esteja aí se perguntando qual a relação disso com o valor da vida, eis a resposta: da mesma forma que quem dá sentido à palavra é o leitor, quem dá sentido à vida e, portanto, confere-lhe valor, é o sujeito: corpo + alma + sentidos + escolhas + desejos + fracassos + experiências + dores + alegrias. Cada um de nós é o resultado - nem sempre exato - dessa soma. Não há resposta certa. Quem diz quanto vale a sua vida é você.

Lembra-se do perigo da palavra escrita, que pode ser manipulada? O mesmo cuidado que se deve ter com as palavras alheias, deve-se ter com a vida alheia. O ideal é que meçamos a vida dos outros a partir dos mesmos parâmetros com que o fazemos com a nossa própria.

É um palpite, apenas isso: imagino a minha vida um livro, da qual sou, ao mesmo tempo , leitora e autora. Sou eu quem monta os momentos poéticos, as tragédias (muitas, as vezes), o humor. Se as ilustrações são de dias chuvosos ou ensolarados, desenhos realistas ou pinturas fantásticas, se há mais preto que verde, a decisão é minha. Se troco letras, omito frases, dissimulo parágrafos com verdades inventadas, no final, sou eu quem responderá por isso como autora; e sou eu quem significa essa história a cada novo episódio. Então, quem diz se essa história vale a pena, sou eu. Quem diz se sua história vale a pena, é você.

Esse texto é um convite, um apelo, um estímulo... escrevam, escrevam, escrevam!

Carol.